31.10.17

 
Tinha um louva-a-deus na parede ontem


Morreu uma dúzia de franceses e teve comoção mundial e todos postaram uma hashtag superfofinha: #JeSuisCharlieChaplin ou qualquer porra assim.

Mas tinha um louva-a-deus na parede ontem.

Morreram mais de 350 negros na Somália, num dos maiores atentados da história, mas não teve hashtag porque os negros são negros da Somália negra e passaram em branco.

Mas, do nada, surgiu um louva-a-deus gigante. Era um sinal.

Na chacina de Osasco mataram 17 pessoas, mas também não teve muito auê, afinal Osasco é só Osasco e tá longe dos Jardins e periferia é isso. Fazer o quê?

O louva-a-deus tava lá. Verde. Fazendo o que mais sabe: louvando a Deus.

Na Favela do Lixão, Claudineia foi baleada na barriga, onde, por puro azar, estava seu bebê, o ex-futuro rei Arthur, que morreu um mês depois.

Mas tinha um louva-a-deus na parede ontem. Sinal de que tudo ia mudar.

Ia mudar?

Ia!

O louva-a-deus virou uma crosta verde desesperança amalgamada pra sempre no branco paz ingênuo da parede.

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