31.7.18

 
Asteroide na contramão


Do alto, bem do alto das centenas de quilômetros do meu corpo rochoso e metálico miro a infinita insignificância de vocês e sei que em apenas milhares de anos (o que não é nada para um anos-luzmente idoso como eu) nosso estupendo encontro deixará bilhões de vocês desencontrados.

As estrelas cadentes que vocês sonham ver serão bombinhas de São João – melhor: bobinhas de São João – perto do estalo que precederá nosso diálogo do silêncio fatal.

Isso me faz avançar séculos-luz por segundo e ir mais longe e ir além e tal qual viúva-negra dar a vocês este orgasmo mortal que os deixará arrependidos – se tivessem tempo pra arrependimentos – de terem flertado com a morte em estado bruto.

E continuo caindo em mim para desmoronar em vocês e mesmo que perca partes do meu eu em quilômetros de braços, pernas, coração (coração não) e me desvie em órbitas erráticas sei que nossa cópula será certa se não me incinerar até virar grão de areia na atmosfera incerta da sua ingratidão.

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