2.9.20

 

Caterpillar na joalheria

 

 

Você me pousou ali.

Com dedos de nuvem

na vitrine central da joalheria.

Sem fazer seguro de mim.

Muito menos seguro pra si.

 

Eu.

Diamante em estado bruto pra você.

Máquina de catástrofes pra quem quisesse ver.

 

Reluzindo quilates
que só você via

e refletia

(sem pensar)

se tinha valor fazer valer meu peso em ouro.

Ainda que pros outros eu,

peso pena, peso mosca, peso morto,

nada valesse.

 

Você lá a me admirar.

Mas era você que brilhava.

Joia tão rara e eu,

em vez de pérolas aos poucos,

só pérolas aos porcos.

 

Penhor no penhasco.

Multiplicando avalanches

na mera intenção de me

lo(u)comover.

Fazendo cosplay de terremoto.

Imitação liquefeita de tsunami.

Enxame de tragédias melosas e melodramáticas.

Maremoto do caos no deserto de esperanças.

Incêndio de intenções na geleira do desejo.

Tornado o que nunca havia me tornado.

Ou sempre fora

por dentro e por fora.

 

Você, cega de tanto ver.

E eu, num estalo de dedos mortal

(dos quais um reluzia a nossa aliança),

apagando tudo o que

de mais brilhante

luzia em você.


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