5.9.20
Seu amor não vale um chiclete
Ele a convida pra viajar.
Ela aceita (por que era tudo pago?).
Ele larga o emprego de dez anos pra vê-la no réveillon.
Acredita que vai começar uma nova vida.
É dos que ainda acreditam.
Quer acertar as contas com o passado pra não dever nada ao futuro.
E vai.
Sim (rs), ele vai.
Tá acreditando mesmo.
Andam felizes na praia como nos filmes melosos em que o casal irradia tanta felicidade que nos deixa cegos.
Que os deixa cegos.
Mas pra que ver a realidade?
Se estão apaixonados?
(É, ele acha que tão apaixonados.)
Se dão muito certo na cama?
Tanto que quem não dá certo é ela.
A cama quebra.
Ele vê nisso (é um visionário) um sinal de que o amor (o negócio foi elevado à instância do amor, gente) deles (deles!, ele pensa; é um pensador, sem dúvida) é inquebrantável.
E paga tudo pra ela.
Tudo.
Quase tudo.
Tem uma hora (tudo na vida tem uma hora) em que ela pede um chiclete.
Um chiclete.
Coisa de centavos.
Ele fala (há palavras entre eles ainda): “Ué, vai lá e compra.”
Ela pede o dinheiro.