6.6.21

 
Bailarinas mancas caem numa piscina de fogo


O sessentão ouve New Order na garagem e tenta ordenar um sábado sem razão.

Ao longe, Caetano Veloso estaciona o carro no Leblon e baliza o fato de que algo está fora da nova ordem mundial.

Mas nem na Alegria, Alegria desconfiam disso nas subidas e descidas da Vila Ipojuca.

Escadarias que dariam em roubo e dão em mais casas, que contam histórias, que acabam num casamento impensável na igreja furtada pela pandemia.

Hóstias passam de mão em mão em cada vírus do céu do sermão e do gel do senão.

O Sol nas bancas de revista avisa:
“Veja, não há mais bancas nem revistas”.

Aos pares, casas e casais mostram porque nunca casas.

Arquiteta a sua solidão o vazio das ruas tão desabrigadas de quem lhe faça par.

Ímpar, segue caminhando contra o vento, sem lenço e sem alento.

Mil anos depois, estende os braços e o coração a alguém que finalmente o consola, mas seu pas de deux tropeça nas palavras jogadas no caleidoscópio onde bailarinas mancas caem numa piscina de fogo.

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