31.8.21

 
Talibã


Sem alma, nossos corpos agarram-se a aviões lotados de vidas vazias. 

Quanto mais subimos, menor ficamos diante do pavor que nem pode ser visto. 

Enquanto uma mão segura na asa, a outra entrega o filho recém-nascido a quem nunca se viu. 

Milhares de vidas que se perdem só por se encontrarem no lugar errado. 

Os corpos que caem do céu viram homens-bomba que afundam no inferno quem não pôde voar. 

As ajudas humanitárias, que também fogem em debandada, sequer se lembram que ainda somos humanos (se é que um dia já fomos). 

Na cidade em ruínas, a fome habita em bocas sem palavras diante do indizível. 

Nossas crianças e mulheres se aterrorizam por saberem que nada é pior do que ser, por anos, escrava sexual do terror. 

Na religião do fuzis, quando um Deus autoriza matar, a morte nunca diz adeus.

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