3.9.21

 
Insônia II


A insônia me cochicha:
“Se prepara que esta noite é dia”.

A TV, mesmo desligada, ironiza: “Se liga nesta programação especial pra quem não tem programa nenhum”.

O abajur, apagadão, suplica: “Dá uma luz aí”.

O colchão, de altos e baixos, desafaba: “Pare! Esta depressão tá insuportável”.

O copo d'água, meio vazio e inteiro pessimista, pinga suores que depois pingarão do corpo.

E filosofa: “Você tem muita sede pra quem se desagua no nada”.

Desligado, o lustre lança feixes de luzes que morrem de tédio, pois não há uma alma esclarecida pra debater iluminismo às 4h46. E reflete: “O lugar mais escuro do mundo é sempre embaixo de uma lâmpada”.

No armário, dormem lembranças e monstros que roncam em coro o sono dos zumbis. “Cuidado: suas altas ruminações podem nos acordar pra comermos seu cérebro de tão baixos pensamentos e gosto duvidoso.”

Olho pro criado-mudo buscando remédio pra dormir, vida pra viver, sonho pra sonhar ou a mínima ajuda. Ou pelo menos alguém pra conversar.

Ele nada fala.

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