30.1.07
Carência
Senti uma carência tão grande que achei que a folha da árvore roçando atrás do meu pescoço era alguém me fazendo carinho.
Senti uma carência tão grande que achei que a folha da árvore roçando atrás do meu pescoço era alguém me fazendo carinho.
18.1.07
O prelúdio do dilúvio
A noite chora. Prenunciando que essa gotinha tão pequena que escorre devagar dos seus olhos não será a última, mas apenas a primeira de muitas outras que virão e verão a crise intensificar-se muito mais. Mais como? E possível mais? Sim, é possível. Basta ver que no fundo do poço já racham rachaduras que o conduzirão prum poço mais fundo. É possível ir mais fundo? Claro. Tão claro como esta noite de chuvinha rala como sua lágrima, mas que vai se infiltrando no barro dos bairros de periferias cujas encostas não são guardadas nem pelos seus guarda-costas, e desabando telhados, quartos, sonos e sonhos de adultos e crianças que não choram como você, mas chorarão a vida inteira por não terem mais parentes pra salvar-lhes de outras chuvas que despejarão gotas bem mais verdadeiras que sua lagrimazinha e os despejarão de novo. E você, reclamando do barulho da tempestade que agora aumentou, tomando Lexotan pra poder dormir e se achando a pessoa mais infeliz do mundo.
A noite chora. Prenunciando que essa gotinha tão pequena que escorre devagar dos seus olhos não será a última, mas apenas a primeira de muitas outras que virão e verão a crise intensificar-se muito mais. Mais como? E possível mais? Sim, é possível. Basta ver que no fundo do poço já racham rachaduras que o conduzirão prum poço mais fundo. É possível ir mais fundo? Claro. Tão claro como esta noite de chuvinha rala como sua lágrima, mas que vai se infiltrando no barro dos bairros de periferias cujas encostas não são guardadas nem pelos seus guarda-costas, e desabando telhados, quartos, sonos e sonhos de adultos e crianças que não choram como você, mas chorarão a vida inteira por não terem mais parentes pra salvar-lhes de outras chuvas que despejarão gotas bem mais verdadeiras que sua lagrimazinha e os despejarão de novo. E você, reclamando do barulho da tempestade que agora aumentou, tomando Lexotan pra poder dormir e se achando a pessoa mais infeliz do mundo.
15.1.07
Sérgio Sampaio II
“Mas tudo é tão verde em seus olhos
não dá pra não ver
Sem ser João Batista você batizou
meu corpo na crista das ondas do mar
e aí me abriu feito ostra
e colheu minha pérola pra Iemanjá
agora que estou à mercê de sua luz
em nome das águas lá de Bom Jesus
em nome de Deus me carregue
e me pregue em sua cruz
Colônias de abutres colunáveis
gaviões bem sociáveis
vomitando entre os cristais
Quantas cartomantes consultaste
pra me seduzir
Foi brilho de lua que roubaste
pra brilhar teus olhos tanto assim
Justo quando eu me aclimatava o ar faltou
Espinho é bem mais fundo
destino também
Você foi a chuva miúda
que alagou meu coração
Há quem diga que eu dormi de touca
que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
que eu caí do galho e que não vi saída
que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
que eu não sou de nada e não peço desculpas
que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
e que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
gingar, pra dar e vender”
“Mas tudo é tão verde em seus olhos
não dá pra não ver
Sem ser João Batista você batizou
meu corpo na crista das ondas do mar
e aí me abriu feito ostra
e colheu minha pérola pra Iemanjá
agora que estou à mercê de sua luz
em nome das águas lá de Bom Jesus
em nome de Deus me carregue
e me pregue em sua cruz
Colônias de abutres colunáveis
gaviões bem sociáveis
vomitando entre os cristais
Quantas cartomantes consultaste
pra me seduzir
Foi brilho de lua que roubaste
pra brilhar teus olhos tanto assim
Justo quando eu me aclimatava o ar faltou
Espinho é bem mais fundo
destino também
Você foi a chuva miúda
que alagou meu coração
Há quem diga que eu dormi de touca
que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
que eu caí do galho e que não vi saída
que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
que eu não sou de nada e não peço desculpas
que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
e que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
gingar, pra dar e vender”
9.1.07
Sérgio Sampaio
“Eu nunca pensei que pudesse querer
alguma mulher como quero você
Você que se esconda que eu procurar
você nem se iluda que eu vou lhe encontrar
você pode ir e sair e sumir por aí
que não vai se ocultar
eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
eu pego carona até no Challenger
e vou nos anéis de Saturno
buscar por você
Com os dentes cariados da alegria
com o desgosto e a agonia
da manada dos normais
Eu vejo um mofo verde no meu fraque
e as moscas mortas no conhaque
que eu herdei dos ancestrais
Eu tenho medo de polícia de bandido
de cachorro e de dentista
O olho do amor desconhece armadilha
Quantos idiomas tu usaste pra me traduzir
Nosso amor morreu tão cedo
durou o tempo exato
da agonia do Tancredo
Vejo-lhe agora estranha pintura
que sai da moldura escapa pro ar
Quem viu o pavio acesso do destino?
Quero encontrar um amor
daqueles que não batem na porta pra entrar
Agora eu vou me dar a mão
Tenho meu vícios
vivem dentro de mim
esses bichos
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer”
“Eu nunca pensei que pudesse querer
alguma mulher como quero você
Você que se esconda que eu procurar
você nem se iluda que eu vou lhe encontrar
você pode ir e sair e sumir por aí
que não vai se ocultar
eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
eu pego carona até no Challenger
e vou nos anéis de Saturno
buscar por você
Com os dentes cariados da alegria
com o desgosto e a agonia
da manada dos normais
Eu vejo um mofo verde no meu fraque
e as moscas mortas no conhaque
que eu herdei dos ancestrais
Eu tenho medo de polícia de bandido
de cachorro e de dentista
O olho do amor desconhece armadilha
Quantos idiomas tu usaste pra me traduzir
Nosso amor morreu tão cedo
durou o tempo exato
da agonia do Tancredo
Vejo-lhe agora estranha pintura
que sai da moldura escapa pro ar
Quem viu o pavio acesso do destino?
Quero encontrar um amor
daqueles que não batem na porta pra entrar
Agora eu vou me dar a mão
Tenho meu vícios
vivem dentro de mim
esses bichos
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer”
3.1.07
Ano novo, vida velha
Quantas sete ondas você precisa pular para não se afogar nos mesmos buracos que afundam sua vida cada vez mais?
Quantas roupas brancas você usa para esconder as sujeiras que fez durante o ano inteiro e encobrir essa bílis negra que emana ódio e amargura?
Quantas rosas jogadas ao mar recompensarão as sementes que você não plantou e os espinhos que você semeou?
Quantos champanhes devem ser estourados pra fazer borbulhar um coração que tem a pinga como formol?
Quantas falsas promessas farão você se arrepender verdadeiramente?
Quantos fogos de artifício brilharão esta vida tão reluzentemente apagada?
Quantas calcinhas vermelhas estancarão o sangue dos desejos transplantados?
Quanta sorte atrairá o dinheiro que comprará sua infelicidade?
Quantos desejos de paz ficarão só e sós no desejo?
Quanta vida nova já está mais velha?
Quantas sete ondas você precisa pular para não se afogar nos mesmos buracos que afundam sua vida cada vez mais?
Quantas roupas brancas você usa para esconder as sujeiras que fez durante o ano inteiro e encobrir essa bílis negra que emana ódio e amargura?
Quantas rosas jogadas ao mar recompensarão as sementes que você não plantou e os espinhos que você semeou?
Quantos champanhes devem ser estourados pra fazer borbulhar um coração que tem a pinga como formol?
Quantas falsas promessas farão você se arrepender verdadeiramente?
Quantos fogos de artifício brilharão esta vida tão reluzentemente apagada?
Quantas calcinhas vermelhas estancarão o sangue dos desejos transplantados?
Quanta sorte atrairá o dinheiro que comprará sua infelicidade?
Quantos desejos de paz ficarão só e sós no desejo?
Quanta vida nova já está mais velha?