31.10.06

 
Ex-tamira

Inspirado no filme Estamira.

Meu nome é Estamira. Corpo visível presente gênero par. Tô aqui pra denunciar tudo o que tá errado, torto nesse mundo. Sei mais do que esse povo todo. Esses médicos que ficam copiando remédio e me entupindo de Diazepan sem nem me conhecer. Sem saber o que tenho. Pode uma coisa dessa? Tenho um monte deles, mas não tomo nenhum.VÃO TUDO SE FERRAR! BANDO DE SAFADO QUE NÃO SABE QUE EU ENXERGO ALÉM DO ALÉM DO MAIS DISTANTE. Lá no longínquo. Que a gente, no sangüíneo, é como esses fio de luz que corre. Ó aqui! Que eu posso tá velha e acabada, mas eles não podem comigo não. Sou Estamira. Meu deus é outro. Que eu posso tudo. TUDO! Até falar com trovão. Bóoum! Xenequi crismae! Hum. Que o ser humano perverso num vale o pior do lixo desse lixão. No qual quando eu morrer meu corpo vão alimentar esses bicho tudo. Mas não vão acabar comigo tão cedo. Sou Estamira. Ex-tamira.

24.10.06

 
A neurolingüística da casa de papelão

Isso, seus trouxas, façam essa cara de nojo, como se eu fosse o ralo da sociedade. Querendo que me escoe por esse ralo pra não poluir o caminho de vocês. O seu desprezo é o meu combustível.

E esta casinha de papelão é só o alicerce de uma futura mansão. Não ficarei aqui por muito tempo. Farei mais sucesso que vocês. Por quê? Porque tenho o livro Querer é poder: como ter sucesso já!

Todos os conceitos mais modernos da neurolingüística estão aqui. Basta seguir.

“Toda dia diga: eu vencerei”. Por isso, construo sempre uma vida melhor. Minha caixa é a mais linda de todas. Tem estilo art decó. Dois andares. Calefação interna.

“Seja sempre uma pessoa melhor”. Amanhã não serei mais eu. Serei “eu mais um”. Um dia a mais de aperfeiçoamento. Bem diferente dos meus colegas (?) que se afundam na pinga e vão explodir ao pôr na boca a próxima bituca de cigarro.

“O seu futuro é agora”. Não perco tempo. Já estou escrevendo outro livro que desta vez fará sucesso.

17.10.06

 
Amuleto de mim

“Que o ser humano possa ser seu próprio amuleto” (?)
Nietzsche


Transformar o coração em pedra.

Petrificar mais a pedra que esse coração virar.

Revolucionar todos os compêndios de medicina e livros de anatomia.

Transformar os mais sangrentos boletins de ocorrência em canções de ninar.

Originar manchetes de jornal que vão escandalizar a população como nunca, e vender jornal como nunca.

Exigir que o seguro pague a perda total desse coração sinistrado que, de tanto ficar marcando passo, nem marca-passo resolve mais.

Fazer das tripas coração para que o coração seja cada vez mais tripa e menos coração.

Transplantá-lo a níveis nunca vistos de maldade, capazes de causar rejeição no corpo do mais cruel dos criminosos.

Bombeá-lo não com sangue, mas com nitroglicerina, até que os vasos sangüíneos bombardeiem vasos sanitários.

Torná-lo um bunker impenetrável, impedindo que entre qualquer emoção e vedando-o contra vazamentos de choro.

Até esse coração ficar tão duro que vire um amuleto de mim.

10.10.06

 
Debatendo a cara pra bater


─ Boa noite. Vossa Excelência é presidente da república, chefe dos ministros, chefe de quadrilha e diz que não chefia nada. Vossa Excelência sabe que é uma besta?

─ Em vez de falar de plano de governo, dos milhões de empregos que criei, do Bolsa Família, diz leviandades. Quero saber por que sua filha trabalhou na Daslu e por que nesta foto o senhor veste um dos 500 vestidos que sua esposa ganhou?

─ Não respondeu porque não sabe. Agora diga: quantas pingas toma por dia?

─ É melhor tomar isso do que tomar o dinheiro do povo como o senhor faz. Pergunta: depois que o PCC acabou com o trânsito de São Paulo e fez todos irem embora mais cedo do serviço, o senhor nomeará o Marcola pra ministro?

Apresentador: “Obrigado pela audiência e que este debate ajude os eleitores a decidirem o voto”.

(No reservado, a sós, os dois candidatos: “Pô, aquela pergunta não tava combinada!”. “Nem a sua”. “Pode dar U$$ 100 mil a mais por isso”. “Abate dos U$$ 200 mil que cê tá me devendo”.)

3.10.06

 
Derrota

Olá, meu nome é Derrota. Calma. Antes que você pense “xi, mais um”, saiba que não vim aqui pra pedir seu voto. Sei que não vou ganhar mesmo. Nunca ganhei nada na porcaria dessa vida.

Mas queria (“quero” é uma expressão muito forte) que minha presença representasse todos os fudidos na vida, os que não têm nada, nem dinheiro, nem casa, nem companhia pra rachar cerveja ou muito menos carinho de namorada. E tudo o mais que existe no seu rico mundinho.

Sou, ou tento ser, o candidato dos excluídos, dos que estão na pior da pior e tentam evoluir pra merda; que é um lugar agradável se comparado com o nosso.

Não tenho propostas de governo. Só gostaria que você visse que eu, e outros como eu, sobrevivemos, apesar de constantemente metralhados pelos olhos da sua indiferença. Porque só de nos ver, você acumulará felicidade suficiente pra economizar 50 sessões de terapia.

Por isso, quando for votar, lembre-se de que eu NÃO mereço seu voto. Não mereço nada. Muito menos de você. Meu número é 0000.

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