31.7.07

 
Equação


Olhou pro rosto, pra bunda, pro rosto e pra bunda e, numa equação matemática que seu cérebro já estava cansado de resolver (embora àquela hora seu nível etílico tornasse seus pensamentos mais lentos), concluiu: é, dá pra comer (resultado correto, apesar de o nível de exigência ter sido rebaixado pelo mesmo fator alcoólico).

Quando ela pediu um maço de cigarro, calculou o gosto que o beijo teria, o tempo a mais que levaria pra beijar, a parada para comprar chiclete e a equação começou a não bater mais.

Mas pronto: ao final da outra caipirosca tudo se encaixava de novo. Ela parecia até mais agradável. Embora não beijasse direito (tudo bem, ele não queria só beijo) e tivesse pouca cultura (pra que discutir Kierkegaard na praia?) e empatia (não ia namorá-la mesmo).

No tempo certo, da forma que previra, do jeito que adivinhara e exatamente como calculara, a leva pro hotel.

Só não contava que ela também fosse formada em matemática. E que agora quisesse discutir a equação.

E a relação.

30.7.07

 
Serpentinas em luto

Da música “Setembro” do Hojerizah

Seu enterro será meu baile de carnaval.

Mas antes disso, você vai sofrer até chorar milhares de confetes negros; um para cada lágrima que me fez amargar.

Em vez de choradeiras, contratarei uma banda de fanfarra para animar a festa.

No lugar do café, servirei cerveja aos seus inimigos que hão de festejar comigo sua derrota.

Rojões explodirão anunciando pra cidade inteira seu declínio sete palmos embaixo da terra.

Enfeitarei seu caixão com escorpiões, para que você também prove do veneno do amor não correspondido.

Negar-lhe-ei a extrema-unção, para que pague eternamente no inferno tudo o que me fez sofrer em vida.

Das rosas, só terá contato com os espinhos que polvilharei no seu corpo roto.

E como apoteose, farei chover enxofre, que cairá em pingos grossos como serpentinas em luto, para lavar da existência e da minha memória tudo o que você já foi pra mim.

29.7.07

 
Ônibus

À Raquel do ônibus para Mosqueiro


...olha aqui, ó, que eu não tenho aliança nem nada, mas sou casada e tenho dois filhos que são tudo pra mim. Na verdade, não planejei, mas sei lá, acredito em Deus. Quando minha mãe morreu, eu tava grávida do primeiro. Mamãe era tudo pra mim. Se não fosse meu filho, não agüentava o baque, não. Eu tava sozinha, meu irmão mora longe. E o meu marido, que eu não tenho aliança, mas sou casada, me apoiou bastante. Hoje eu vivo em função dele e das crianças. Ó a foto deles aqui. Essa sou eu menininha dançando quadrilha. Cara de sapeca, né? Essa aí é lá de Mosqueiro. Quando chegar lá eu lhe oriento onde você desce. Mas tem tempo ainda. Fui pra Belém pra comprar umas coisas e fiquei na casa da minha sogra. Eu não fiz nada no cartório ou na igreja; mas sou casada. Não vejo a hora de ver meus filhos. Hoje eu primeiro penso neles e depois em mim. Um tem sete e a outra tem cinco. Eles são... Mas peraí. A gente tá aqui falando, falando, e como você chama mesmo?

28.7.07

 
Aeroporcos II


Um megahotel-bordel às margens do aeroporto.

Taí, uma idéia que só poderia ser de uma careca e mente tão brilhante como a minha.

Apesar de que, neste país onde tudo virou sacanagem, não era preciso pensar muito pra ver que esses executivos, que ficam horas esperando feitos porcos no chão e não conseguem voar, tavam loucos pra pôr as asinhas de fora.

No meu hotel, além de não sofrerem nas filas do check-in, eles subirão nas alturas com modelos que são verdadeiros aviões, não têm pane seca e tão sempre molhadinhas.

Aqui, enquanto suas pacatas esposas pensam que viajam, eles farão um tour no que há de melhor nas nádegas, bocas e costas brasileiras.

Mostrarei que o paraíso está em São Paulo e que não há paisagem, praia ou floresta mais bonita do que as minhas meninas.

Basta ter pelo menos R$ 1.000 pra comprar o ticket da “conexão”.

E dane-se se o hotel ficou metros acima do projeto aprovado e os pilotos tenham de desviar, colocando vidas em risco.

Neste país o gozo está acima de tudo.

27.7.07

 
Japonês-Hilux


Escolheu uma mesa próxima. Depois, tentou sacar o que unia esse casal diferente.

Tinha certeza de que essa morena jambo de traços amazônicos e cruzada de pernas fatal, por estar com um japonês tão sem graça, lhe daria bola.

Pressentindo a futura dor de cabeça, o Japonês-Hilux olhava feio pra ele, que jogava seu melhor olhar pra ela, que nem tchuns; embora estivesse com cara de tédio ao lado do Japonês-Hilux-0k.

Pensou que, diante da pobreza da cidade, ela casara com o Japonês-Hilux-0k-4x4 por interesse. Afinal, não havia muita opção de emprego e o Japonês-Hilux-0k-4x4-air-bag devia dar-lhe conforto; ainda que parecesse desconfortável com o Japonês-Hilux-0k-4x4-air-bag-cabine-dupla.

Na hora em que o Japonês-Hilux-0k-4x4-air-bag-cabine-dupla-banco-de-couro foi ao banheiro, achou que teria sua grande chance. Mas ela nem aí de novo.

E quando o Japonês-Hilux-0k-4x4-air-bag-cabine-dupla-banco-de-couro-freio-ABS volta, ela (!) paga a conta, os dois saem e passam sem parar pela Hilux.

26.7.07

 
A queda


Ela (brandindo a garrafa de Contini): “UMBORA, MOTÓRA!!!”.
Ele (sob o efeito da bebida que ela pediu1): “Senta aí sua lôca!”.
Macharada (em coro): “GOSTOSA! GOSTOSA!”.
Motóra: “Acho melhor sentar porque...”.

PLAFT! O triciclo-táxi de Parintins tomba, ele se rala no chão e ela, rindo que só, cai em cima dele.

Não fosse o corpinho de indiazinha linda de 1,60, mas inversamente proporcional poder de sedução, teria abandonado ela ali. Mesmo pressentindo o pior (parecia garota de programa, mas disse que fazia medicina2), resolveu arriscar.

Já na praça, chamava atenção de padre. Todo mundo mexia e ele só vendo a hora que ia brigar com alguém3.

Do Contini, não largava. E quando largou foi pegar uísque de um marmanjo babão. O outro tenta beijá-la, mas ela sai, dá o copo pra ele e diz: “Toma! É U-ÍÍÍS-QUI!”.

Ele vira tudo, e a cara alucinada dela indica que ele vai cair de novo.



1. Hum... Começou pagando? Mau sinal...
2. Medicina?!?!?!
3. De um, ouviu até conselho: “Pra que brigar por mulher?”.

25.7.07

 
Presença de espírito


Ausência de mim.

10.7.07

 
PARE DE SOFRER!

Existe uma solução para o seu problema.

PARTICIPE DE UMA DE NOSSAS REUNIÕES

TODOS OS DIAS

7h às 10h da manhã 15 horas às 19 horas

OBS. FAÇA SEU PEDIDO DE ORAÇÃO E ENTREGUE NA IGREJA

3.7.07

 
Depressão geográfica


Meu estado emocional não tem capital.

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