29.7.08

 
Batmãe



Sabe, Robin, eu cansei.

Tô cansado dessa luta vã. Desse jogo de cartas marcadas no qual o Coringa sempre ganha. Até o crime organizado virou bagunça. Sem falar que todos os bandidos que eu prendo o Supremo manda soltar.

Dediquei minha vida na batalha contra o mal, dei tudo de mim e só me dei mal. Não tenho o reconhecimento que mereço. Logo eu que merecia brilhar mais do que o Batsinal.

Dia desses até minha mãe me tirou a paciência. Sabe a capa nova toda aveludada que eu comprei na 25 de Março e você mesmo viu que é ma-ra-vi-lho-sa? Com detalhes bordados e strass? Ela teve a coragem de dizer que era cafona. Cafona! Pode?! Fiquei tão possesso que tasquei-lhe um peteleco.

Sei que é feio bater na mãe, mas essa foi demais. O pior é que saiu na imprensa. E arranhou minha imagem.

Ah, Robin, só você me entende. Estou triste e precisando da sua ajuda. Não vejo a hora de encontrá-lo de novo no aconchego da Batcaverna, onde sempre fomos uma dupla dinâmica e você, bem mais que um menino prodígio.

22.7.08

 
Operação Solta e Agarra



Do alto do salto alto do meu poder supremo, mando tudo. E, principalmente, desmando.

Mais do que redigir as leis que regem este país, Eu sou as leis que rangem esta nação sem noção de quão grande é minha sapiência perto da ignorância desses delegadozinhos e suas operações pseudoespeciais.

Flagrantes flagrantes, meses de investigação, confissões escutadas em escutas ou provas de suborno são nada perto do poder das minhas canetadas.

Com elas, solto ou prendo quem quiser, pois, se não há juiz acima de mim, sou o Juízo acima do bem ou do mal. Além de tudo, que mal há em conceder habeas corpus que abrirão pra mim milhões em contas das quais nunca prestarei contas?

E não me venham com mandatos de busca e apreensão, pois apreensivos ficarão todos os que ousarem se interpor entre mim e a lei, ou seja, entre mim e Eu mesmo.

Data venia, caro cliente, se protejo-o do Protógenes, é porque também quero proteger os trâmites legais dos meus dólares reais.

15.7.08

 
Sim para não



Poderia ter sido presente de aniversário, lembrança de alguém distante, acariciando seus ouvidos e dançando em sua mente o som de uma mensagem tão, tão aguardada, mas nunca falada.

Desmistificando seus anseios, brindar-lhe-ia com o pó de suas dúvidas, até que no final duvidasse que um dia já duvidou daquilo.

Mas a neblina de seus temores chove agora em todo o seu ser, alagando certezas e convicções que em sua inocência imaginara ter, se não insistisse em descortinar a realidade que já sabe, de antemão, real.

Se não para sim, falaria de falácia contra si mesmo, pessimismo exacerbado, vocação pro sofrimento e uma vontade irrefreável de se ver como seu próprio inimigo.

Se sim para não, a recíproca, aquela que tanto almejara, alveja-o agora com sua ausência, desmoronando possibilidades tão fragilmente arquitetadas.

Se não para não, fica a realidade que se apresenta pra você como um presente quebrado e inesperado.

E sem esperança.

8.7.08

 
Academia da Berlinda*



Aos que vieram e aqui chegaram e ainda estão, devendo não estar, mas insistindo em ficar, tenho péssimas notícias: não podiam ter vindo, crescido, nascido ou sequer pensado em existir.

A única saída que posso lhes oferecer é a mesma por onde entraram, ou seja, a total falta de perspectiva de uma vida ativa.

Tudo o que vêem à sua volta lhes será motivo de revolta e volta e meia quererão sair, inconscientes da distância que cerca seus desejos e da cerca que seca suas almas.

Proibidos de continuar e impedidos de sair, permanecerão ausentes de si num lusco-fusco de fogo-fátuo, inquilinos da morte que lhes cobra o aluguel das suas reles existências.

E se acham que já não têm mais nada a perder, percam as esperanças porque o sofrimento mal começou.

Dito isso, fiquem à (minha) vontade.


* Meses após apresentação da banda homônima, horas depois de visita a uma academia e minutos posteriores à imaginação de uma mente desconexa.

1.7.08

 

Zuz


Quando Levistraz foi jogado na linha do horizonte, num descuido inadmissível para um guerreiro que galgara sua fama como nenhum outro, menos que na morte pensou que morreria sem reencontrar as Isírias e, acima de tudo, Isara, com quem prometera passar o fim de seus dias descansando das milhares de batalhas que deixaram em seu corpo marcas tão gritantes como o berro que ele dá agora, acordando Zaratrustre do seu sono sagrado qüinqüenal numa ira só amenizada por ter descoberto tratar-se do seu filho mais querido, que salvara sua vida tantas vezes como ele faz agora, tirando até a última gota de bílis de cada um dos milhares de Niotons sorridentes de ficarem apreciando Levistraz ali caindo até ser pego pelos braços reconfortantes do pai, que o conduz de novo ao centro do confronto, não sem antes repreender-lhe energicamente, retardando o afago das mãos calejadas e passando seu cedro ao novo guardião que, entendendo sua missão, enfim lhe permitiria cair no tão sonhado nirvana profundo.


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